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Agência de Notícias

Vida nos esqueletos: as coleções osteológicas do Museu Goeldi

Esqueletos completos e incompletos auxiliam na identificação de grupos animais que habitaram e diversificaram a região amazônica.
publicado: 10/01/2014 12h15, última modificação: 22/08/2017 15h32

Agência Museu Goeldi - É através do estudo de ossos coletados em campo que paleontólogos trabalham, não só para pesquisar e produzir conhecimento sobre tempos idos da vida no Planeta, mas também para enriquecer acervos com exemplares os mais variados encontrados na natureza. Identificar, catalogar e publicar os últimos exemplares osteológicos doados ao Laboratório de Paleontologia do Museu Paraense Emilio Goeldi (MPEG), que aguardavam tratamento curatorial e determinação taxonômica, para serem armazenados definitivamente na Coleção Osteológica. Esse foi o trabalho desenvolvido por Felipe S'thiago Freitas Leite, orientando de Heloisa Santos, curadora das Coleções de Paleontologia e de Minerais e Rochas do Goeldi, e defendido durante o XX Seminário de Iniciação Científica (PIBIC), em 2012.

O trabalho de identificação e catalogação de exemplares da Coleção Osteológica do Laboratório de Paleontologia do Museu Goeldi constitui etapa indispensável para os estudos desenvolvidos nessa área no Museu. Como resultado do trabalho de iniciação científica, Felipe identificou sete exemplares de mamíferos e dois novos táxons - unidade de sistema de classificação de seres vivos, seja reino, família, gênero ou espécie. Um táxon foi determinado em nível sub-familiar, enquanto os demais o foram em nível específico. Destes, duas novas espécies foram acrescentadas à coleção.

Para a orientadora do trabalho, Dra. Heloísa Santos, o acréscimo desses dois novos táxons representa um “enriquecimento de material disponível para comparações com fósseis e para outros estudos desenvolvidos com auxílio da osteologia”.

O material estudado consta de 11 exemplares representados por esqueletos completos, incompletos e de crânio e mandíbula isolados. Segundo a pesquisadora do Goeldi, o conhecimento osteológico fornece diversos tipos de informações que auxiliam na determinação de relações de parentesco. “Os ossos podem ser utilizados para obter informações relacionadas ao modo de vida do animal, preferências de ambiente e alimentares, considerando-se a morfologia dentária”, explica.

Ossos reveladores: vulnerabilidade e preservação - Pode parecer estranho na primeira leitura, mas Osteologia é a ciência que estuda os ossos de espécimes e permite estabelecer a  comparação anatômica. O Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), desde 1896, organiza o acervo de valiosos exemplares e hoje, passados quase 120 anos, possui documentados e preservados esqueletos completos, de exemplares vulneráveis o que, no processo de contínuo enriquecimento dos acervos institucionais, é um componente essencial para o treinamento de novos talentos, como é o caso de Felipe S'thiago Freitas Leite, que durante sua pesquisa acabou por encontrar dois novos táxons para a Coleção Osteológica associada ao Laboratório de Paleontologia do Museu.

Dentre os exemplares recebidos em doação, 18 têm o esqueleto completo. Gato Maracajá (Leopardus wiedii), Jaguatirica (Leopardus pardalis), Peixe-Boi amazônico (Trichechus inunguis) e Poraquê (Eletrophorus electricus) são alguns dos exemplos. Esse material disponível é essencial para a organização dos táxons em ordem, gênero ou espécie. Segundo Heloisa Santos, curadora das Coleções de Paleontologia, a identificação em nível mais específico nem sempre é possível quando não se dispõe de crânio e/ou mandíbula. “Daí termos identificações em nível de gênero e mesmo de ordem”.

A Coleção Osteológica está organizada na Coordenação de Ciências da Terra e Ecologia (CCTE) do Museu Goeldi junto com as coleções de Paleovertebrados, Paleoinvertebrados, Paleobotânica e Microfósseis. Essas coleções são parte das atividades científicas e acadêmicas já que fornecem informações seguras sobre adaptações específicas como sustentação, postura e o modo de locomoção.

Novos fósseis e fósseis catalogados - Para lembrar como essas descobertas contribuem para diversas áreas de estudo, Heloisa ressalta que, na Paleontologia, por exemplo, os fósseis catalogados ajudam na identificação de outros fósseis encontrados. Pela  comparação com esqueletos recentes se processa a identificação de um ou outro osso. “Na Zoologia, a osteologia auxilia na determinação de afinidades entre grupos. Já na Zooarqueozologia é possível determinar a alimentação dos homens antigos, enquanto que na Botânica se pode cruzar informações com base na dentição dos grupos estudados”, esclarece a pesquisadora.

Particularmente para a Paleontologia, a coleção osteológica auxilia a identificação de grupos animais que habitaram a região amazônica, mais especialmente aqueles que deixaram representantes na fauna atual. Por exemplo, as preguiças que hoje vemos em árvores são representantes de um grupo extinto de grandes preguiças terrícolas, ou seja, que andavam no chão.

Texto: Silvia de Souza Leão, Agência Museu Goeldi