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Pesquisadores resgatam filhote de peixe-boi-da-Amazônia no Marajó

Resgate foi organizado pelo Museu Goeldi, UFPA, ICMBio e IBAMA nos arredores da Floresta Nacional de Caxiuanã, arquipélago do Marajó. Filhote foi encontrado por moradores locais e apresenta ferimentos na cabeça e problemas intestinais.
publicado: 21/09/2016 16h00, última modificação: 21/02/2018 15h18

Agência Museu Goeldi - Um filhote de peixe-boi-da-Amazônia (Trichechus inunguis) foi resgatado no último dia 15 de setembro na comunidade do Brabo, próximo ao rio Anapu, nos arredores da Floresta Nacional de Caxiuanã (PA), arquipélago do Marajó.

Batizado de Kaluanã (que significa “grande guerreira”), o filhote pesa 13,5kg, mede 90 cm e foi identificado como uma fêmea.  Kaluanã apresenta seis ferimentos arredondados na cabeça e encontra-se com problemas intestinais.

Filhote de peixe-boi-da-Amazônia (Trichechus inunguis)O atendimento a Kaluanã foi organizado pelo Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos da Amazônia (GEMAM), do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e pelo BioMa - Biologia e Conservação de Mamíferos Aquáticos da Amazônia, grupo de pesquisa da Universidade Federal do Pará (UFPA). Os pesquisadores se mobilizaram junto com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a Superintendência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente no Pará (IBAMA/SUPES Pará) para atender ao encalhe e organizar o resgate do filhote.

Encalhe – Moradores da comunidade da Vila do Brabo encontraram o filhote no dia 9 de setembro e, preocupados com a sobrevivência do animal, buscaram a sede da Estação Científica Ferreira Penna (ECFPn), base de campo do Museu Goeldi na Flona de Caxiuanã, para pedir apoio.

A expedição de resgate, composta de uma bióloga e uma veterinária, partiu de Belém no dia 13 de setembro, em um percurso que pode ser feito apenas de barco, com duração mínima de 22 horas. Apenas no dia 15 de setembro foi possível chegar até a vila do Brabo, de onde Kaluanã foi transportada em um percurso de 2 horas para a Estação Científica Ferreira Penna.

A médica veterinária Doracele Tuma (BioMa/UFPA) relata que “durante todo o percurso a frequência respiratória do filhote foi monitorada e sobre o seu corpo foram aplicados óleo mineral e toalhas molhadas com água, para a manutenção da umidade”.

Kaluanã foi mantida sob os cuidados de moradores locais por sete diasKaluanã esteve por sete dias em um poço cavado para recebê-la, às margens do rio Anapú, enquanto aguardava a chegada da equipe de biólogos e veterinários. Os moradores da comunidade relataram que o filhote não conseguia afundar, o que pode ser crítico para um mamífero aquático. Para os ribeirinhos, Kaluanã comeu “folhas e borra de barranco”, como são chamadas as macrófitas aquáticas na região de Caxiuanã.

Tratamento - Já na Estação Científica Ferreira Penna, Kaluanã foi colocada em uma piscina de 5500 litros e alimentada com uma fórmula de leite de soja, com suplementos vitamínicos e óleo de canola, preparada especialmente para ela.

Os ferimentos foram limpos com antisséptico e tratados com pomada antibiótica. Além disso, o tratamento é composto de antibiótico injetável para a infecção nos ferimentos da cabeça, medicamentos para restabelecer a microbiota intestinal, assim como um fitoterápico composto de quatro plantas medicinais com ação laxante sobre o sistema gastrointestinal.

A Dra. Renata Emin explica que o peixe-boi-da-Amazônia é uma das espécies de mamíferos aquáticos mais ameaçadas de extinção do Brasil. “Esta espécie foi quase dizimada pela caça predatória no passado nesta região. Desta forma, atualmente, qualquer exemplar de peixe-boi merece atenção especial, com o objetivo de manter as populações nativas, contribuindo para o equilíbrio do ecossistema. Por isso, todo esse esforço para salvar Kaluanã”

Kaluanã será levada para o município de Breves. De lá, um médico veterinário das Faculdades Integradas do Tapajós (FIT/Unama Santarém) irá busca-la para que seja levada a um centro de reabilitação para filhotes de peixes-bois-da-Amazônia, no Jardim Zoológico da FIT/Unama, em Santarém. No centro, ela deverá permanecer sob os cuidados de médicos veterinários, biólogos e tratadores, até que se reabilite para retornar à Floresta Nacional de Caxiuanã e possa ser solta na natureza.

Texto: Uriel Pinho