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Perspectivas transdisciplinares para os estudos costeiros na Amazônia

Em evento que apresentou o livro “Amazônia, zona costeira: termos técnicos e populares”, a geomorfóloga Maria Thereza Prost palestrou sobre os desafios e os diálogos da pesquisa no litoral amazônico
publicado: 05/05/2015 14h00, última modificação: 20/02/2018 12h15
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Livro Amazônia zona costeira: termos tecnicos e populares

Agência Museu Goeldi -Amazônia, zona costeira: termos técnicos e populares”, glossário que reúne expressões dos pesquisadores que estudam a área e dos habitantes do litoral amazônico, foi lançado oficialmente na última quinta-feira (30) no Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). A publicação é um esforço de coleta e análise de pesquisadores do Programa de Estudos Costeiros (PEC) da instituição e sua apresentação foi um momento de celebração do histórico do Programa durante um seminário. O evento apontou para um futuro de mais parcerias transdisciplinares nas pesquisas, envolvendo cada vez mais as populações tradicionais.

A pesquisadora Maria Thereza Prost aponta os desafios de pesquisar o litoral amazonicoA palestra inaugural do evento foi da geomorfóloga Drª Maria Thereza Prost, criadora do Programa. A pesquisadora estuda a zona costeira brasileira desde a década de 1960 e coordenou o PEC por nove anos. “É bom estar de novo nessa casa. É uma honra ser convidada para cá e um privilégio ter trabalhado aqui, vocês sabem que eu amo o Museu Goeldi e respeito muito essa instituição”, falou em seu discurso de abertura. Prost, embora aposentada da instituição, continua como pesquisadora colaboradora do Museu Goeldi e do Institut de la recherche pour le développment - IRD/Cayena, além do programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPa.

Na palestra “Litoral amazônico: desafios e perspectivas", “Tesy”, como é tratada pela comunidade científica, apresentou informações do projeto que desenvolve no Institut de la recherche pour le développment (IRD) e que se concentra na faixa litorânea entre o Brasil e a Guiana Francesa. Durante sua fala, ela apontou lacunas do conhecimento que ainda precisam ser preenchidas pela ciência. “A gente tem que entender a nível regional e local como é o comportamento das unidades de paisagem, como é que elas estão hoje, qual o estado de saúde delas, porque isso é fundamental para a gestão, para fazer o monitoramento”, disse.

Unir pesquisas e olhares (das ciências naturais e humanas) sobre um mesmo objeto de estudo e integrá-las com o saber das pessoas da zona costeira é um caminho para criar políticas públicas de qualidade para a região, de acordo com a pesquisadora. “O livro que foi lançado hoje já é um primeiro entrelaçamento entre as comunidades, as Resex, e a parte científica. É preciso que a gente fale uma língua veicular, que todo mundo entenda. Eu parabenizo o Museu e os pesquisadores porque foi um grande trabalho de reflexão, análise crítica e esse é um bom elemento para novas perspectivas”

Termos técnicos e populares – Como definiu uma de suas organizadoras, Maria Luiza Videira, usando um dos termos contidos no livro, “Amazônia, zona costeira: Termos técnicos e populares” é uma “enfieira” (instrumento de pesca para juntar e transportar peixes), uma compilação de palavras correntes na fala de quem vive na e estuda a área litorânea da Amazônia.

Segundo o zoólogo Inocêncio Gorayeb, outro organizador da obra em parceria com a botânica Alba Lins e o geólogo Amilcar Mendes, a ideia para a publicação, assim como parte do conteúdo, foi coletado durante as atividades de grupos de pesquisa do Goeldi na região. “Os pesquisadores têm uma prática de relação com as comunidades quando estão fazendo suas pesquisas em campo. Além de estarem trabalhando com assuntos da zona costeira, construíram relações de amizade, de vivência, de morar na casa do pescador, de às vezes sair junto com o pescador pra pescar, e nesses momentos você tem a oportunidade de captar essa linguagem e de observar a vida deles e essa relação do homem com a natureza. O livro, através de termos, reflete um pouco isso”, disse.

Em “Amazônia, zona costeira”, essas palavras recebem uma explicação que mistura a linguagem comum e técnica, além de serem ligadas aos seus sinônimos científicos. Outra seção do livro cataloga as espécies da fauna e flora típicas da região com seus nomes populares e as nomenclaturas binomiais. “Por exemplo, quando eu falo do ‘avuado’, que é uma maneira de preparar o peixe, simples, mas gostosa, sem precisar de muita coisa, o livro aponta quais as espécies de peixe que os pescadores mais gostam pra fazer o avuado e colocamos lá os nomes científicos delas” conta Gorayeb.

Parte das belas fotos que ilustram a obra foram cedidas pelo fotógrafo Hely Pamplona. Com anos de experiência no fotojornalismo e de vivência na zona costeira amazônica, este é o primeiro projeto que Pamplona participa no meio científico. “Vivi 12 anos em uma região bem próximo ao Atlântico e durante esse convívio eu produzi muitas imagens, pescava com os ‘cabocos’, e isso me proporcionou que eu tivesse muitas imagens desse tema, que me interessa muito.  Foi uma honra participar desse projeto do Goeldi”, afirma.

Capa do Livro Amazônia, zona costeira: termos  técnicos e populares“Amazônia, zona costeira: termos técnicos e populares” é uma publicação realizada com patrocínio da pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará (FAPESPA). O livro estará a venda na Livraria do MPEG, no Parque Zoobotânico, e durante a XVIII Feira Pan Amazônica do Livro, que acontece entre os dias 30 de maio e 08 de junho, em Belém. Clique aqui e assista ao book trailer da publicação “Amazônia, zona costeira: termos técnicos e populares”. O livro estará a venda na Livraria do MPEG, no Parque Zoobotânico, e durante a XVIII Feira Pan Amazônica do Livro, que acontece entre os dias 30 de maio e 08 de junho, em Belém.

Clique aqui e assista ao book trailer da publicação.

Uma segunda edição, com novos e mais termos da linguagem amazônica, já está sendo planejada. “Não foi fácil fazer esse livro, mas nós conseguimos. Ele abre caminho para que outros pesquisadores possam fazer obras semelhantes, olhando para as comunidades tradicionais da Amazônia, não só da zona costeira”, finaliza Inocêncio Gorayeb.

Texto: João Cunha