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Museu Goeldi: valorização do passado e inspiração para o futuro de Belém

Imagem do Parque Zoobotânico do Museu Goeldi no ano de 1900
Agência Museu Goeldi - Nesta terça (12), o Parque Zoobotânico do Museu Goeldi abre excepcionalmente ao público - e com entradas gratuitas, em comemoração ao aniversário de 400 anos de Belém. Muito há para ser celebrado e lembrado do patrimônio desta cidade, que está entre as mais antigas da história de colonização da Amazônia. Muito há também para se sonhar sobre o futuro que se quer para a capital paraense e as pessoas que nela vivem.
Quem quer que visite o Parque Zoobotânico do Museu Goeldi neste dia 12 poderá conferir cerca de 80 espécies de aves, mamíferos, quelônios e répteis, entre outros. Poderá ver também mais de 500 espécies de vegetais, incluindo árvores centenárias. Mais que isso, ao caminhar por um dos espaços mais emblemáticos da capital paraense, é possível acessar - em trilhas, canteiros e prédios históricos - camadas de memórias que contam sobre diferentes épocas da história de Belém, e nos ajudam a entender o presente e planejar o futuro da região de maior biodiversidade do globo.
Rosto europeu, alma amazônica – O historiador Nelson Sanjad nos conta que o Parque Zoobotânico do Goeldi foi criado em 1895, pelo zoólogo suíço Emílio Goeldi. O parque zoobotânico foi pensado não apenas como sede do então Museu Paraense (que existia desde 1866, e portanto, completa 150 anos em 2016). Ele também deveria ser um local em que se pudesse oferecer entretenimento e provocar a simpatia do público pelo trabalho de investigação científica da instituição - a mais antiga a se dedicar à pesquisa na Amazônia.
A atenção do público era conquistada, à época, com a visitação a animais, plantas e coleções científicas. Tudo isso em meio a um paisagismo de feições europeias, que incluia monumentos como a caixa d'água (ver galeria de imagens), modelada para parecer as ruínas de um antigo castelo. Os ideais de civilização e modernidade eram parte importante do projeto do Parque Zoobotânico, criado quando Belém passava pela chamada Belle Époque Amazônica.
Até a década de 1930, o parque não ocupava inteiramente o quarteirão de 5,4 hectares que hoje ocupa no centro de Belém. Por meio de desapropriações sucessivas, foi se expandindo na área que, naquela época, era a zona rural da cidade. O ponto de partida para essa expansão foi o prédio da “Rocinha”, hoje conhecido como o pavilhão de exposições Domingos Soares Ferreira Penna. A Rocinha guarda os traços arquitetônicos clássicos das antigas casas de campo típicas das elites da época.
O Museu hoje - Atualmente, as atividades de pesquisa e os mais de 4,5 milhões de itens tombados nas coleções científicas do Museu Goeldi se concentram em seu Campus de Pesquisa, no bairro da Terra Firme, em Belém; e também na Estação Científica Ferreira Penna, localizada na Floresta Nacional de Caxiuanã, em Melgaço (PA), no arquipélago do Marajó. O Parque Zoobotânico permanece como referência turística na capital paraense - e também em educação ambiental e científica, elementos que parecem chave para um futuro positivo para a cidade de Belém.
Não por acaso, o Parque foi escolhido como foco do programa ProGoeldi. Iniciativa da sociedade civil, coordenada pelo Instituo Peabiru, o programa tem como um de seus objetivos arrecadar recursos para reformas e projetos dentro da instituição. Por meio da campanha “Abrace o Museu Goeldi”, qualquer pessoa pode fazer uma doação, em valores que vão de R$ 10 a R$ 15 mil. Basta acessar o site da campanha (disponível aqui).
Hoje, é no Parque Zoobotânico que se organizam exposições, a partir das coleções científicas do Museu. É nele que também se desenvolvem ações de educação científica e ambiental, baseadas nas pesquisas da instituição. O Museu Goeldi é atualmente o terceiro maior Instituto de Pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil, desenvolvendo conhecimentos nas áreas de Botânica, Zoologia, Ciências Humanas e Ciências da Terra e Ecologia.
Conhecimento para a cidade – Nas origens do Parque Zoobotânico, a população de Belém era composta por muitos migrantes, atraídos pela economia da Era da Borracha, e por pessoas cada vez mais urbanas, que provavelmente tinham contato cada vez menor com o ambiente silvestre já naquela época. Em 1900, Belém tinha cerca de 100 mil habitantes. Estima-se que 90% frequentassem esse antigo espaço do Museu Goeldi, que completa 121 anos em 2016. Hoje, as mais de 300 mil pessoas que visitam o Parque Zoobotânico anualmente têm ainda menos oportunidades de conferir a natureza Amazônica dentro do próprio município de Belém.
Pesquisa realizada pelo próprio Museu Goeldi revelou que, até 2010, o Parque Zoobotânico era o fragmento florestal mais isolado do município de Belém, distante mais de 2 quilômetros do fragmento mais próximo, o Bosque Rodrigues Alves. Ao todo, a parte continental do Município de Belém já perdeu mais de 87% de sua cobertura vegetal original.
O parque permanece como uma mensagem verde no centro da capital: diz que a cidade precisa cada vez mais valorizar sua identidade amazônica e a qualidade de vida proporcionada por parques, praças e áreas de floresta. Para ficar apenas em um exemplo, ao redor do Parque Zoobotânico a temperatura é reduzida em até 3 graus celsius por conta da presença do verde.
Também em sua missão de chamar atenção para os conhecimentos científicos, o Parque Zoobotânico serve de inspiração para Belém. Apesar da melhoria do número de titulações de mestres e doutores no Brasil, a região amazônica ainda carece tanto de pesquisas quanto de formação qualificada. Segundo o site Observatório do PNE, a região Norte, que compõe a maior parte da Amazônia brasileira, formou 257 doutores no ano de 2013: apenas 1,68% dos 15.287 titulados em todo o Brasil no mesmo ano. Apesar de concentrarem o maior número de instituições de ensino superior e pesquisa do Norte, Belém e o Estado do Pará ainda precisam avançar muito na educação básica e na pesquisa científica. É o caminho necessário para utilizar e preservar recursos ambientais, respeitando conhecimentos tradicionais e fortalecendo a sustentabilidade.
Um Museu para o futuro - De acordo com a pesquisadora Heloisa Helena da Costa, da Universidade Federal da Bahia, as cidades são o resultado da criatividade dos homens. Elas crescem ou declinam e estão sempre em constante mudança a partir das atividades que seus habitantes desempenham.
Neste 12 de janeiro de 2016, o Parque Zoobotânico do Museu Goeldi e a instituição como um todo se abrem para continuar sendo espaço fundamental para se enxergar Belém e a Amazônia, bem como para se projetar um futuro melhor, valorizando as narrativas de vida de seus habitantes e suas relações com todo o patrimônio cultural e científico resguardado pela instituição. Nestes 400 anos de Belém e 150 anos de Museu Goeldi, a instituição e a cidade continuam adquirindo e construindo novos sentidos e novas funções, juntos.
Texto: Uriel Pinho
Calendário Museu Goeldi nos 400 anos de Belém
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