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Agência de Notícias

Uma alemã que fez história na Amazônia

Nas comemorações pelo ano da Alemanha no Brasil, o Museu Goeldi homenageia a alemã-amazônica Emília Snethlage. Uma das primeiras mulheres a possuir ensino superior no mundo e pioneira a dirigir uma instituição científica na América do Sul
publicado: 16/05/2014 09h30, última modificação: 28/08/2017 15h04

Agência Museu Goeldi – Em 2014 comemora-se o ano da Alemanha no Brasil e, através de uma parceria com a Casa de Estudos Germânicos da Universidade Federal do Pará (UFPA) e também com o Instituto Goethe, o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) promoveu no último dia 17 de abril uma palestra em homenagem à Emília Snethlage, uma das primeiras mulheres a escrever seu nome na história no início do século XX. “Emília Snethlage: pioneira em dois mundos” foi ministrada pela antropóloga berlinense Dra. Beatrix Hoffman com tradução simultânea de Sabine Reiter, coordenadora da Casa de Estudos Germânicos da UFPA. Em maio, o Museu Goeldi continua suas homenagens à Snethlage e suas contribuições às Ciências Naturais e Humanas com a exposição "Diálogos: os Snethlage e as Ciências Humanas no Museu Goeldi", aberta nesta sexta, 16.

Um estudo sobre Emília Snethlage – Beatrix Hoffman pesquisa de forma aprofundada a carreira e os feitos de Emília Snethlage. Sua palestra, no Campus de Pesquisa do Goeldi, atraiu pesquisadores e estudantes a fim de conhecer mais sobre a “senhorinha doutora”, como ficou conhecida uma das primeiras zoólogas alemãs, a primeira mulher a assumir a direção do Museu Emílio Goeldi e também dirigente de uma instituição científica na América do Sul.

Segundo a Dra. Beatrix Hoffman, a vida e obra de Emília Snethlage são pouco conhecidas na Alemanha atual. É uma lacuna na ciência e por isso é preciso informar o mundo científico alemão sobre a primeira mulher daquele país a receber responsabilidades antes dadas apenas aos homens. Devido à formação na Antropologia, Beatrix Hoffman é enfática: “eu tenho missão de informar, de mediar esse conhecimento, repassando para as gerações de hoje, que hão de se perpetuar às futuras”. O objetivo da pesquisadora é focar em estudos sobre o desenvolvimento profissional de Emília Snethlage, levando em consideração a história alemã da educação e a carreira acadêmica das mulheres.

Durante sua exposição, Beatrix Hoffman falou da luta das mulheres alemãs para terem acesso às universidades. Segundo ela, foram as próprias mulheres que lutaram para conseguir este feito, sendo apoiadas por poucos homens.

De zoóloga à diretora – A quando de sua chegada ao Museu Goeldi, em 1905, Emília Snethlage tornou-se uma pioneira em quase tudo. Como chefe do departamento de Zoologia, cargo que assumiu em 1907,  já se destacava bem mais que suas colegas alemãs do início do século XX. “Ela era a primeira cientista natural alemã que tinha responsabilidade administrativa em uma instituição de pesquisa. A partir desse momento, ela não era só responsável pela coleção, mas também pelo Parque Zoobotânico com todos os seus animais”, diz Hoffman.

No Pará, entre suas principais tarefas na instituição, estava a complementação da coleção de Zoologia, mais especificamente no que diz respeito às aves. Em poucos anos, a ornitóloga conseguiu acrescentar vários exemplares e, baseando-se no trabalho de seus colegas antecessores, publicou em 1913 o “Catálogo das aves amazônicas”. Após setenta anos subseqüentes à publicação, este catálogo seguiu sendo utilizado como referência nos estudos da ornitologia do Brasil.

Emília Snethlage assumiu a direção do MPEG quando o Dr. Jacques Huber faleceu. Coordenou a instituição até 1922, quando se transferiu para o Museu Nacional do Rio de Janeiro onde catalogou as aves do Brasil. De acordo com a antropóloga Beatrix Hoffman, nessa época o Museu Goeldi tinha entrado em uma crise financeira prolongada com a participação do país na Primeira Guerra Mundial, além do declínio da “Era da Borracha”, o que levou Snethlage a procurar função em outra instituição.

Desbravadora - A “senhorinha doutora” não parava. Além do trabalho administrativo no Museu Goeldi, Snethlage continuava a realizar suas pesquisas e explorou sistematicamente novas áreas geográficas. A pé e na companhia de indígenas, seus guias, a pesquisadora percorreu uma região até então desconhecida entre os rios Xingu e Tapajós, bem no meio da selva amazônica. O desbravar de um território até então nunca registrado pela cartografia rendeu repercussão internacional.

Snethlage e os indígenas - A coletas de feitas por Emília Snethlage junto à etnia Xipaya-Kuruaya compõem hoje o acervo do Ethnologisches Museum Berlim, na capital alemã. Por intermédio de Dra. Beatrix Hoffman, do Museu de Berlim e do Instituto Goethe, os objetos da cultura material foram registrados e as imagens farão parte de exposição planejada pela Coordenação de Museologia do Museu Goeldi, em cartaz a partir desta sexta, 16, até outubro de 2014.

A exposição mostra parte da história de Emília e seu contato com os Xipaya-Kuruaya, há cem anos, na Bacia do Xingu. O indígena Luiz Xipaya faz parte da comissão organizadora do evento, contribuindo com artesanatos e histórias de seu povo. Dez indígenas Xipaya também estarão presentes na abertura da exposição.

Texto: Júlio Matos