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Agência de Notícias

Um registro do modo de vida de populações litorâneas

Livro esquadrinha patrimônio, usos do território e de recursos naturais, mudanças e manejo alternativo de conflitos na pesca no litoral amazônico
publicado: 26/08/2013 14h45, última modificação: 15/08/2017 08h41

Agência Museu Goeldi - O poder das sociedades locais não pode ser subestimado. Para a antropóloga do MPEG, Dra. Lourdes Gonçalves Furtado, “A comunidade tem um papel decisivo nas mudanças. É dona de um poder crucial na discussão e implementação de metas sociais, culturais e ambientais. Não é amorfa, pensa e reflete sobre sua práxis social, tendo senso crítico para ajudar a combater desmandos, imposturas e ideias alienantes sobre seus territórios, seus valores e seus saberes”.

Reflexões do trabalho “Populações Tradicionais Haliêuticas – impactos antrópicos, uso e gestão da biodiversidade em comunidades ribeirinhas e costeiras da Amazônia” empreendido na fase mais recente do Projeto “Recursos Naturais e Antropologia das Sociedades Marinhas, Ribeirinhas e Estuarinas da Amazônia” (Renas), originaram livro organizado por Lourdes Furtado, Isolda Maciel da Silveira e Graça Santana, intitulado Reserva Extrativista Marinha Mãe Grande – Curuçá, Pará, Brasil: estudo etnoecológico e sociocultural.

Os estudos do Renas permitiram definir o que é uma reserva extrativista marinha em área do litoral paraense, que garante a conservação e preservação de áreas expostas a impactos humanos, assim como a posse territorial a quem nela trabalha – seja com a agricultura, com a pesca ou com o extrativismo marinho. Mas ainda “É muito pouco tempo entre a criação da Reserva Mãe Grande, em 2002, e o presente. A criação da Reserva veio configurar um movimento de organização política dos usuários para sistematizar idéias, agregar pessoas para refletir sobre a criação da reserva, seu destino, as suas conseqüências e fazer comparação entre o antes, o depois e o devir”, explica Lourdes  Furtado que coordena o Renas.

Troca de saberes - Expedição científica do Museu Goeldi adentrou a Reserva Extrativista Marinha Mãe Grande em 2003, cuja ação culminou com a realização de seminários, palestras e oficinas voltados à população local, levando pesquisadores das coordenações de Ciências Humanas e Naturais a interagir com a comunidade. Assim, informa, na apresentação do livro, a também antropóloga Dra. Denize Genuína da Silva Adrião.

“Uma importante contribuição do livro é um estudo detalhado sobre os aspectos sociais, econômicos, ambientais e culturais da Resex Mãe Grande, e isso somente acontece quando se aliam políticas públicas e conhecimento tradicional científico, sem os quais o desenvolvimento da Amazônia torna-se inviabilizado”, destaca o Dr. Raul de Campos, da Faculdade de Turismo da Universidade Federal do Pará (UFPA), e colaborador do Renas.

Com a divulgação dos resultados das pesquisas contidos no livro e se aproveitamento por instâncias políticaspara considerar, rever e pensar o que defendem os autores sociais da comunidade, a obra contribuirá para a manutenção e preservação da Resex Mãe Grande, afirma a pesquisadora Dra. Lourdes Furtado, para quem é importante também que a comunidade entenda o que ela própria ajudou a construir ao lado dos pesquisadores.

A pesquisa que originou o livro Reserva Extrativista Marinha Mãe Grande fez um caminho plural: “da associação de outros campos do conhecimento que viessem dar conta das questões antes identificadas”, diz Lourdes Furtado. Na obra se encontram antropologia, botânica, geologia e geomorfologia, educação, turismo, ornitologia, numa trama interdisciplinar da realidade do litoral do Pará, de um território de reserva extrativista marinha.

Lourdes Furtado destaca na obra “a atenção para os saberes locais, para o conhecimento tradicional das populações, que merece ser concebido na avaliação de conceitos sobre a região, sobre a biodiversidade desta, seu meio ambiente. Espera-se que as ideias da população expressas na obra não sejam descartadas ou tidas como imaginário sem sentido; pelo contrário: sejam tidas como elementos institucionais capazes de desvendar situações”.

 

Texto: Júlio Matos