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Agência de Notícias

Um canto gregoriano em Língua Geral

Pesquisadores apresentam suas observações iniciais a respeito da canção “Do Dia Final” e tentam elucidar um enigma histórico. Que motivos levaram missionários jesuítas do século XVIII a inserirem no título da canção uma menção a um hino em língua latina?
publicado: 29/05/2018 11h30, última modificação: 29/05/2018 12h29

Agência Museu Goeldi – “Do Dia Final” é uma canção que consta de um conjunto de manuscritos sem autoria identificada – códice anônimo – do século XVIII, escritos na chamada Língua Geral, ou línguas de base indígena amplamente praticadas em território brasileiro até à expulsão dos missionários jesuítas pelo governo pombalino. Junto com a canção, foi descoberto o comentário "imitando Dies Illa", que remete ao hino "Dies Irae, dies illa", texto organizado em 17 estrofes rimadas. A descoberta tem deixado até hoje os pesquisadores especializados com muitas dúvidas.

A versão do século XVIII escrita em Língua Geral possui 17 tercetos rimados, do mesmo modo que o hino em língua latina, mas não é possível dizer se o autor estava interessado apenas em adaptar o contexto original da canção ou também a sonoridade dos versos. É neste dilema que os pesquisadores Cândida Barros, Fernando Lacerda e Ruth Monserrat se encontram, e agora revelam suas hipóteses sobre a relação entre as duas versões da canção na palestra "Um canto gregoriano em língua geral: Dies Irae (Anônimo, 175-)?". O encontro acadêmico será realizado no campus de pesquisa do Museu Paraense Emílio Goeldi, nesta quarta-feira (30).

Palestrantes - Doutora em Ciência Sociais, com experiência em Linguística,a pesquisadora do Museu Goeldi, Cândida Barros, vai expor sobre a identificação do códice. Doutor em Música, Fernando Lacerda Duarte (UFPA) abordará elementos litúrgicos e musicais referentes ao “Dies Irae”, bem como os estilos musicais correntes no século XVIII e Ruth Monserrat (UFRJ), Doutora em Linguística e especialista em língua Tupi, tratará da tradução do texto.

Códice – O códice jesuítico pertence à Academia de Ciência de Lisboa e data do século XVIII. O missionário autor do manuscrito elaborou a versão em tupi como parte de um projeto de evangelização. Dentre as várias canções que integram o códice, uma tem como tema o juízo final. Não é possível, contudo, saber como elas soariam, pois no códice há somente poemas e não partituras. A ausência de partituras deixa “em aberto se o intuito era apenas adaptar o conteúdo cristão da canção ou também a musicalidade da métrica dos versos”, antecipa Cândida Barros.

Canção – O canto gregoriano é um gênero musical dentre os diversos que eram praticados ritos católicos no século XVIII. Trata-se de um gênero musical monódico – em que todos os cantores entoam a mesma melodia – tendo tido sua sistematização na Idade Média, pelo papa Gregório Magno. Além do canto gregoriano, também se praticava, no século XVIII, música polifônica em estilo antigo e moderno. No texto contido no códice, um dos primeiros aspectos levados em consideração é a preocupação do autor em repetir o esquema de 17 estrofes, com três versos cada, característicos da versão original do “Dies Irae”. Com esse detalhe, foi possível notar a preocupação em conservar os referenciais europeus no poema da canção utilizada no processo missionário. Fernando Lacerda alerta que "não é possível afirmar, com o mínimo grau de certeza, que determinada letra tomada isoladamente, sem partitura ou qualquer outra indicação textual, corresponda a um gênero musical específico neste período, uma vez que com a mesma letra é possível criar diversas composições".

 

Serviço | Palestra – “Um canto gregoriano em língua geral: Dies Irae (Anônimo, 175-)?”

Data: 30/05 (quarta-feira), às 10h

Local: Sala 1, Coordenação de Ciências Humanas, Campus de Pesquisa do Museu Paraense Emílio Goeldi.