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Respostas à sustentabilidade no Brasil

Em palestra no Museu Goeldi, Marcelo Tabarelli destacou a integração entre ciência e gestão pública para um novo modelo de desenvolvimento na Amazônia
publicado: 24/03/2014 14h30, última modificação: 28/08/2017 13h58

Agência Museu Goeldi - Como desenvolver uma sociedade com base em uma economia tipicamente ou predominantemente florestal? A questão, até então sem resposta, foi lançada a uma platéia formada por pesquisadores jovens e experientes no dia 24 de fevereiro, no Auditório Paulo Cavalcante do Museu Emílio Goeldi. Para o autor da pergunta, Dr. Marcello Tabarelli (Universidade Federal de Pernambuco), os especialistas brasileiros são os únicos que podem indicar os possíveis caminhos para a sustentabilidade dos sistemas de florestas tropicais.

Na palestra “Os desafios da Ciência da Biodiversidade no Brasil”, Tabarelli explicou que os especialistas em biodiversidade devem identificar a diversidade biológica, compreender como ela se organiza em diferentes níveis, investigar como responde às pressões antrópicas e refletir formas de usos sustentáveis desta diversidade. Ele afirmou que apesar do Brasil ter tradição nos estudos de descrição e ecologia da biodiversidade ainda são poucas as pesquisas voltadas à sustentabilidade dos recursos naturais, até por se tratar de um campo relativamente novo na ciência.

Para o pesquisador, é imprescindível uma política estratégica de desenvolvimento científico para o país que atenda as demandas globais. Mais do que fomentar políticas científicas para a biodiversidade, o objetivo seria implementar políticas de uso e gestão dos recursos naturais. E esta é uma tarefa urgente: “O conhecimento adequado da diversidade biológica, dados os investimentos atuais, demandariam 300, 400 anos para que uma parte considerável dela fosse identificada. Obviamente, uma grande parte dela poderá ter desaparecido nesse intervalo”, afirmou Tabarelli.

Assista ao vídeo com o pesquisador Marcelo Tabarelli destacando os principais pontos da Ciência da Biodiversidade no Brasil, clicando aqui.

Mantendo as florestas em pé - Sobre a questão que abre este texto, Marcelo Tabarelli foi categórico: “Com floresta tropical em pé, hoje, se morre de fome. Viver de floresta em pé não está sendo suficiente para se ter qualidade de vida”. Seguindo este pensamento, atividades como o cultivo de soja e a pecuária não seriam as grandes causas do desmatamento e degradação florestal; são consequências de que com a floresta em pé não se gera emprego e renda. Tabarelli é igualmente enfático para afirmar que o modelo sem controle de exploração da natureza não deve continuar como ocorre hoje.

Para o especialista, a ciência deve ser responsável por apresentar alternativas menos degradantes à natureza, os custos possíveis, e as vantagens e desvantagens de cada possibilidade. Ou seja, a ciência deve apresentar, na prática, as bases da sustentabilidade. É neste ponto que Tabarelli chama atenção dos pesquisadores brasileiros. Os programas de pós-graduação existentes, aproximadamente 100, formaram na última década uma faixa de 250 a 300 doutores por ano na área de biodiversidade. Nenhum outro país do terceiro mundo conseguiu qualificar esta quantidade de especialistas. Dentre os países desta categoria, apenas o Brasil poderia buscar soluções sustentáveis aos sistemas florestais: “O Brasil é o único país que tem uma massa crítica, capacidade institucional e um ambiente social onde essa informação possa surgir. Temos aqui todas as condições para dar essa resposta”, concluiu o pesquisador.

O papel da pós-graduação - Outro ponto destacado por Tabarelli é o da criação de programas de pós-graduação que qualifiquem pesquisadores e gestores com perfis para a conservação da biodiversidade. De acordo com ele, os responsáveis pela tomada de decisão sobre a diversidade biológica nos diferentes níveis, em todo o terceiro mundo, não tiveram formação adequada. Seria necessário, portanto, avaliar o tipo de profissional demandado para cada contexto e formar pessoas com perfis definidos para atender as demandas da área e preparadas para fazer o diálogo entre ciência e sociedade, traduzindo o conhecimento científico para que a sociedade possa fazer escolhas.

Além disso, os programas que integram a área de Biodiversidade, de acordo a CAPES - Zoologia, Botânica, Oceanografia e Ecologia - deveriam aumentar a integração entre eles e entre instituições de outros países, avançando na produção de conhecimento desta área que envolve um conjunto de disciplinas e profissionais diversos. Em relação a isto, dados apresentados por Tabarelli mostraram que 40% da produção científica brasileira está publicada em periódicos em português e de pequena circulação, o que torna menor a possibilidade de serem lidos e apropriados pela comunidade científica: “É constitutivo do fazer ciência que a informação que você gera seja apropriada pela comunidade científica e depois pela sociedade. É um debate inócuo, pois é pressuposto. Se quer fazer ciência e contribuir para a sociedade, é preciso torná-la conhecida”, finalizou Marcelo Tabarelli.

Conteúdo para download - A palestra “Os desafios da Ciência da Biodiversidade no Brasil”, ministrada pelo Dr. Marcelo Tabarelli foi uma iniciativa do INCT Biodiversidade e Uso da Terra na Amazônia e do Fórum de Pesquisa e Pós-Graduação do MPEG e pode ser acessada aqui. As apresentações em PDF também podem ser baixadas clicando aqui.

Texto: Luena Barros

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