Você está aqui: Página Inicial > Notícias > Produção, natureza e trocas sociais
conteúdo

Agência de Notícias

Produção, natureza e trocas sociais

Pesquisa realizada no município de Curuçá/PA descreve a produção e cultivo da mandioca
publicado: 22/08/2013 15h00, última modificação: 15/08/2017 08h51

Agência Museu Goeldi - Fatores naturais e socioculturais destacam a mandioca como o principal produto da agricultura das populações ribeirinhas tanto do nordeste do Pará, quanto do Baixo Amazonas, constituindo a farinha, portanto, o principal elemento da dieta dessas populações. As regiões em questão, ainda que com limitações naturais existentes, permitem que a mandioca se destaque no cenário agrícola, pois ela é adaptável às condições ambientais tropicais, condições estas que, via de regra, limitam a disponibilidade de diversas culturas cultiváveis.

Em um ambiente pouco propício à diferenciação de culturas, onde o produtor não dispõe de métodos modernos para a produção, a atividade tem características fundamentais de subsistência. A mandioca não depende sequer da meteorologia. O regime de chuvas que se interpõe no desempenho de outras culturas e reduz as chances de produtividade,não ameaça a mandioca. Cultivada em pequenas propriedades, com uso de tecnologia simples, a mandioca que é resistente, tem produção garantida e garante alimento para a comunidade.

Segundo Francisco Rente Neto, a região que possibilitou o exercício de sua pesquisa – Curuçá localiza-se na microrregião do Salgado, no nordeste paraense, apresenta, em algumas áreas, solo do tipo latossolo amarelo, pobre em nutrientes. De acordo com o bolsista, embora a região apresente boas condições físicas em termos de profundidade e aeração - melhora na qualidade do solo, o teor de elementos químicos é baixo. Mas, a mandioca consegue ultrapassar mais esse que seria um empecilho, e adapta-se facilmente. “Além disso, os pequenos produtores encontraram nela um fator coadjuvante de inestimável valia, pois a sua rusticidade, a simplicidade de cultivo e as inúmeras formas de aproveitamento na culinária fizeram dela o principal elemento de subsistência”, destaca Francisco.

Comunidades ribeirinhas apresentam uma alimentação basicamente composta por farinha e pescado. A farinha é pobre em termos de potencial proteico e vitamínico. Porém, como afirma o bolsista: “pelo menos com a mandioca eles podem ter uma fonte segura de calorias, visto que tanto na farinha seca quanto na d'água verifica-se um elevado teor de carboidratos, o que torna esse alimento como a mais rica fonte desse elemento calórico”.

Além do estudo etnográfico in loco Francisco Rente Neto realizou também consulta à bibliografia de Charles Wagley, Eduardo Galvão e Lourdes Furtado, que estudaram comunidades no Baixo Amazonas. A maior diferença desta região, para a microrregião do Salgado, está na fertilidade de suas terras. No Baixo Amazonas, as terras são firmes e férteis, quanto no litoral da zona do salgado o inverso é verdadeiro. A mandioca, todavia, desenvolve-se bem independente de clima, tropicais e subtropicais, e, tipos de solo.

Muito mais que um alimento, uma fonte de vida
”Mesmo sem nenhum trato e completamente abandonada à sua sorte em terrenos de fertilidade medíocre, ela sempre produz alguma coisa”. A mandioca, assim descrita por Francisco José dos Santos Rente Neto, foi alvo da pesquisa realizada pelo bolsista do Museu Goeldi. Francisco, que tem bolsa mantida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), em parceria do Projeto Recursos Naturais e Antropologia das Sociedades Marítimas, Ribeirinhas e Estuarinas da Amazônia (Renas) se propôs a estudar e conhecer como se dá a produção agrícola da raiz no nordeste paraense.

Cultivada em terrenos rústicos, em solos com baixo teor de elementos químicos e sem o auxílio de tecnologias para o melhoramento da produtividade, a mandioca representa muito mais que um alimento: na cultura de muitas localidades ela gera economia de subsistência, sendo até elemento de festas de celebração.

Francisco Rente Neto enfocou a produção agrícola de mandioca no nordeste do estado a partir de comparações com a mesma produção no Baixo Amazonas. Um estudo in loco foi desenvolvido a partir da descrição e análise da organização da produção comunitária de farinha na comunidade de Piquiateua, no município de Curuçá, distante aproximadamente 140 quilômetros, de Belém, no Estado do Pará: as técnicas, os instrumentos, as relações com o meio ambiente, os saberes tradicionais, as relações de gênero e a participação das crianças.

As populações tradicionais haliêuticas que constituem comunidades ribeirinhas e costeiras da Amazônia brasileira são a base dos trabalhos realizados pelo Projeto Renas há mais de dez anos. Nessa perspectiva o trabalho de Francisco Rente Neto - “Agricultores do litoral: Um estudo etnográfico sobre a produção de farinha no município de Curuçá/PA” se reporta aos agentes produtores e suas relações com a mandioca do ponto de vista econômico e do convívio social.

Texto: Júlio Matos

Galeria de Imagens: