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Agência de Notícias

O inverno influencia os cuidados diários com o Parque Zoobotânico do Museu Goeldi

Após a estiagem mais intensa das últimas décadas, volta das chuvas pede nova atenção à fauna e à flora. Preguiças estão entre mais sensíveis às mudanças.
publicado: 25/02/2016 09h30, última modificação: 19/02/2018 11h14
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Macaco aranha

Agência Museu Goeldi - A transição do verão para o inverno amazônico altera bruscamente a vida da fauna e da flora da região. Não seria diferente no Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi. O bolsão verde de 5,4 hectares, cercado por ruas, casas e prédios no bairro de São Brás, na área central da Grande Belém, guarda 1.790 espécimes de animais - tanto em viveiros, quanto soltos pelo Museu -, além de exemplares de mais de 500 espécies de plantas. E para todos eles existem cuidados específicos para cada período climático do ano.

Macaco Aranha (Ateles paniscus). Suplementação ocorre uma vez por semana.O inverno amazônico - ou a época das chuvas, como é conhecida na região - este ano voltou após os fortes impactos do fenômeno do El Niño - o mais intenso das últimas seis décadas, e que reduziu, drasticamente, até a previsão das chuvas para este ano. Só para se ter uma ideia: em outubro passado, no Pará, a  média de temperaturas máximas foi de 1,4 grau acima do comum. Isso aconteceu porque o fenômeno climático se consolidou antes do normal, diminuindo a umidade e o índice pluviométrico da estação em toda a região.

Fauna - Assim como o ser humano, os animais também sentem as mudanças climáticas. E elas afetam especialmente os primatas. Com propensão a doenças respiratórias, esses animais protegidos pela área do Parque Zoobotânico precisam de suplementação de vitamina C, além da dieta já balanceada com frutas e sucos.

Outros animais que sofrem com doenças respiratórias são os pássaros e as preguiças (Bradypus variegatus). Com essas últimas, o cuidado maior é evitar as correntes de ar. “Em qualquer época do ano, as preguiças são animais muito sensíveis. Então, na época do inverno, a gente fecha a sala delas. Se for o caso, liga até o aquecedor”, explica a veterinária Juliana Batista, do Serviço do Parque Zoobotânico (SPZ).

Também é preciso acompanhar a situação dos viveiros nas épocas das chuvas - mesmo em períodos como o atual, quando estima-se que elas não atinjam nem 10% do nível esperado. A cada estação, é preciso sempre checar a necessidade de recuperação de alguma estrutura que tenha sido corroída. Em outros invernos, os viveiros já precisaram até ser drenados, por causa da quantidade de água imposta pelos regimes das chuvas, conta o veterinário do SPZ, Messias Costa: “As onças, que têm boa memória, ainda lembram desse tempo”, sorri Messias.

Todos os animais e filhotes recém-chegados ao Parque Zoobotânico do Museu Goeldi também são mais sensíveis às mudanças e humores do clima.  E isso se explica pelo estresse adaptativo ao qual eles estão submetidos. Nessa época de chuvas, os filhotes aguardados são, especialmente, os do gavião-real (Harpia harpyja), os dos guarás (Eudocimus ruber) e os das tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa). É o período reprodutivo dessas espécies.

Podas evitam quedas de galhos em trilhas de visitantes e nos viveirosFlora - Os cuidados com a  flora do Parque Zoobotânico também variam  com as mudanças do clima. Durante a época menos chuvosa, a equipe do parque espalha folhas secas no solo, para retardar a evaporação da água. Este ano, com os índices pluviométricos 40% a 50% abaixo do esperado, os cuidados se acentuam. O fato do solo do parque ter sido aterrado com restos de construção também acentua a necessidade de cuidados: isso exige que as plantas sejam constantemente irrigadas, em todos os seus 5,4 hectares.

As árvores da área verde também são sensíveis às mudanças no clima e pedem seus cuidados particulares. O estado de cada uma tem que ser analisado ainda no período seco, para que ocorram as podas necessárias. “Algumas pessoas acham que é no período chuvoso que se fazem mais intervenções. Mas, quando está chovendo, fica até difícil fazer esses procedimentos. As árvores ficam muito escorregadias”, explica o agrônomo Amir Lima, também ligado ao SPZ.

Uma andirá-uxi (Andira inermis), que já tem em torno de 30 anos, secou recentemente. Ela agora espera o término das podas para que seja derrubada. É um exemplo de como a vizinhança urbanizada afeta a longevidade da flora no Parque Zoobotânico. Nessa ilha verde de Belém, o tempo de vida é reduzido pelas dificuldades de enraizamento - o que ocorre, especialmente, pela trepidação do solo, causada pela movimentação de automóveis no entorno. “O solo se desprende, e as raízes não gostam disso. É como se a raiz estivesse morta. E ela começa a morrer mesmo”, esclarece Amir Lima.

Geralmente, o plantio de espécimes que renovam a área verde também é feito durante as chuvas. Isso é aconselhado porque plantas mais sensíveis - como as mudas - podem não aguentar o clima mais seco. Um pé de sapucaia, plantado no último dia 7 de janeiro, precisará de cuidados especiais e muita irrigação. “Aqui no Museu Goeldi, quanto mais água, melhor!”, ensina, com paciência e sabedoria, o jardineiro do Parque Zoobotânico, José Nazareno.

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Texto: Juliana Araujo