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Museu Goeldi: portas sempre abertas para descobertas em Belém

No dia do aniversário da capital, visitantes aproveitaram entrada gratuita para reencontrar o Parque Zoobotânico do Museu Goeldi. Como já é tradição, muitos o visitaram pela primeira vez
publicado: 15/01/2016 12h45, última modificação: 15/02/2018 15h19
Exibir carrossel de imagens Nathália Fonseca Visitantes no recinto dos quelônios

Visitantes no recinto dos quelônios

Agência Museu Goeldi - Elizângela Sena Oliveira e as filhas, Gabriela e Maria Eduarda, moram em Ananindeua, Região Metropolitana de Belém. Pouco mais de 17 quilômetros separam a casa delas e o Parque Zoobotânico do Museu Goeldi,que no último dia 12 de janeiro ofereceu entrada gratuita a todos os visitantes, em comemoração ao aniversário de 400 anos da cidade de Belém.

Ao chegar ao espaço do parque, na avenida Magalhães Barata, no bairro de São Brás, a surpresa foi agradável: “Não costumo vir ao parque. Nem lembro se vim aqui alguma vez”, sorri Elizângela. Ao voltar com as filhas de um shopping no centro de Belém, o marido sugeriu que elas dessem uma paradinha: “Eu estava meio estressada. Então ele disse ‘por que, em vez de voltar pra casa e não fazer nada, vocês não vão ao Museu?”.

Visitantes observam o recinto dos macacos-aranhaMuitas vezes é assim, despretensiosamente - e até com um certo temor de quem entra em uma casa que não é sua - que novos visitantes se juntam às mais de 300 mil pessoas que passam pelo Parque Zoobotânico anualmente. No último dia 12, mesmo com as chuvas que caíram sobre a capital paraense, mais de 1.200 visitantes procuraram as trilhas e monumentos históricos nos 5,4 hectares do bolsão verde encravado na área central de Belém. O fluxo foi semelhante ao que costuma ocorrer em feriados, apesar de a terça-feira não ser um dia em que o espaço está aberto ao público normalmente.

Privilégio – Diferentemente de Elizângela, Enilda Gonçalves, moradora do Barreiro, planejou sua visita e trouxe um grande grupo para o pavilhão de exposições Domingos Soares Ferreira Penna, a “Rocinha”. Era a primeira vez que Enilda, seu filho, suas duas sobrinhas e dois vizinhos visitavam o parque. O grupo de Enilda circulou pelas coleções da Rocinha e se deteve com curiosidade em frente à onça (Panthera oncha) taxidermizada e exposta na mostra “Festa do Cauim”.

“Vim aqui por conta do aniversário de Belém. É uma cidade muito privilegiada”, conta Enilda. Ela ouviu falar do Museu Goeldi pela primeira vez no ano passado, em uma reportagem na televisão. “Tinha vontade de vir, mas nunca tinha conseguido”.

Ainda sobre Belém, Enilda diz que “queria que os governantes olhassem um pouco mais para a cidade, que está muito largada, na questão da saúde e da segurança. Mas [Belém] é muito bonita, tem tudo de bom. Em termos de mercado de trabalho é que está um pouco difícil. Mas pra se viver é bom”, diz ela, que trabalha com serviços gerais, mas está desempregada. Sobre o Parque, Enilda empolgava-se: “Acabei de chegar, mas espero ver muitas coisas bonitas, que me interessam”. 

Impressionante - Após visitar a Rocinha, o grupo de Enilda se dirigiu para o viveiro dos macacos-aranha (Ateles marginatus), onde dois dos animais interagiam intensamente, saltando e perseguindo um ao outro, para diversão de um grupo numeroso.“Eles não caem!", “Encrenqueiro! Parece até que é do bairro do Jurunas!”, se ouvia de um animado grupo de adolescentes.

Lá também está Everaldo Oliveira da Silva, barman, morador do bairro da Pedreira, que nunca tinha vindo ao Parque. Everaldo veio por sugestão da namorada, a vendedora Luna Brasil. Lunamora na Terra Firme e sempre passa pela frente do Museu a caminho do trabalho. “Nunca tinha como vir. Então, no último domingo prometi pras meninas que viríamos. E desde então elas estão sonhando com o Museu. Almoçando, jantando e tomando café falando no Museu”, sorria Luna, se referindo às duas filhas, Bárbara, de 6 anos, e Rafaela, de 4.

Mais à frente, Bárbara apontava com animação: “Olha mãe, a ‘foca’! Ela é fofinha”. Ela se refere à ariranha (Pteronura brasiliensis) que nada pelo tanque, vocalizando seus sons característicos que costumam impressionar o público. A mãe não fica atrás na animação. “Estou gostando muito, muito mesmo. Estou impressionada. Quero andar por todos os cantos antes de ir embora. Me impressionaram muito a anta, a onça e a ariranha”.

Visitantes no recinto dos quelôniosJá o namorado Everaldo gostou mesmo da anta (Tapirus terrestris) e do jacaré-açu (Melanosuchus niger), conhecido carinhosamente como Alcino. Everaldo provocava Luna ao saber queo réptil de 63 anos e mais de meia tonelada foi nomeado em homenagem a um jogador do clube do Remo - rival tradicional do Paysandu, o time de Luna. “Égua, caramba!” protestou ela, decepcionada, entre risos.

De repente começou a chover. Everaldo abriu um guarda-chuva suficiente apenas para proteger as duas garotas. Luna pede licença para procurar abrigo.

Fauna livre – Do lado de fora do parque, encontramos ainda os turistas franceses Morgan Sdeun, Aurora Foussard e Laura Jamson.  Ao redor do canteiro de uma das árvores, eles conversavam. As duas estão de pé. Com uma bebida à mão, Morgan gesticulava. Disse, em uma mistura de inglês, francês e espanhol, que ficou impressionado com a quantidade de árvores do parque, e com os itens expostos na Rocinha. Aurora concordou. Disse que gostou muito das imagens espalhadas pelo parque, representando personagens históricos, e das informações sobre eles. Mas apesar disso, se disse decepcionada com a quantidade de animais. “Achei que fossem muitos. Mas existe uma grande quantidade de animais das mesmas espécies”.

Já Laura ponderava sobre os viveiros. Disse que se sente desconfortável em ver animais em jaulas. Concluiu, então, que gostou muito de ver as araras que fazem parte da fauna livre. Ao ser informada que, em dias normais, a entrada para o parque custa R$2, ela comentou: “É um preço muito acessível, especialmente para famílias. Na França, zoológicos costumam ser muito caros”. 

Morgan e Aurora também pontuaram: não conseguiram se localizar muito bem com a sinalização do Parque Zoobotânico. Porém, concordaram que foi ótimo contar com a colaboração das pessoas, ainda que nenhum dos três falasse português. “Todos foram muito solícitos ao nos dar informações”, sorria Aurora. Em Belém e no Museu Goeldi, as portas parecem estar sempre abertas para descobertas.

Texto: Uriel Pinho