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Incentivo a novas pesquisas

Seminário promove intercâmbio de ideias e experiências entre pesquisadores da História e das Ciências
publicado: 03/05/2013 10h00, última modificação: 13/08/2017 11h17

Agência Museu Goeldi - Nos dias 8 e 9 de maio acontece o 1º Seminário de Pesquisa em História das Ciências na Amazônia. O evento é organizado pela Coordenação de Informação e Documentação do Museu Paraense Emílio Goeldi e divulga trabalhos de pesquisa com ênfase na História das Ciências na Amazônia. A ampliação dos conhecimentos acerca de temas da área e a sua importância para a historiografia regional serão uma constante nos dois dias de programação.
Entende-se como Ciência o conjunto de conhecimentos com caráter empírico, teórico e prático sobre a natureza e que é produzido por pesquisadores que utilizam métodos científicos. E foi exatamente o que fizeram pesquisadores de variadas instituições como o Museu Goeldi e a Universidade Federal do Pará: através de experimentos se fez a observação, explicação e previsão de fenômenos reais do mundo. Agora tais pesquisadores apresentarão seus trabalhos ao público no 1º Seminário de Pesquisa em História das Ciências na Amazônia.

O grupo de pesquisa História das Ciências na Amazônia, do Museu Paraense Emílio Goeldi, atua com vistas a dar visibilidade às pesquisas históricas sobre a Amazônia, incentivar o desenvolvimento de novas investigações sobre a história das ciências na região, atribuindo a elas relações multidisciplinares, e também a criação de instrumentos que possibilitem o intercâmbio entre pesquisadores e instituições que trabalhem com o tema, seja por meio de seminários, publicações conjuntas etc.

O Dr. Nelson Sanjad, do Museu Goeldi, é um dos líderes do grupo de pesquisa História das Ciências na Amazônia e apresentará no seminário a palestra “Ciência, território e fronteiras: expedições e relatos de viagem ao rio Purus (1903-1905)”.

O trabalho de Nelson Sanjad elabora análise comparada dos escritos de Euclides da Cunha sobre o rio Purus – que até o inicio do século XX era um dos rios menos conhecidos da bacia amazônica, e a Amazônia, com os trabalhos do célebre botânico Jacques Huber, que em 1904, em uma expedição científica do Museu Goeldi, adentrou o rio.

Segundo o pesquisador Nelson Sanjad, é possível estabelecer relações e aproximações entre os dois autores, já que Euclides da Cunha reconheceu a influência de Jacques Huber na construção de uma percepção do mundo amazônico mediada pela Ciência. Euclides e Huber se encontraram pessoalmente em Belém no ano de 1905.

O trabalho do pesquisador possibilita uma análise sobre como os cientistas e as ciências naturais contribuíram à construção de relatos edênicos sobre a Amazônia, tal como fez Euclides da Cunha, e como estimularam a intervenção política na região com fins de exploração ou conservação de recursos naturais.

Palestras – No dia 8, às 9 horas, Aldeídes Rodrigues, Chefe da Coordenação de Informação e Documentação, fará a abertura do seminário. Em seguida o pesquisador Nelson Sanjad, o Dr. Miguel Chaquiam, da Universidade da Amazônia (Unama), Diego Machado (FIOCRUZ/UEPA) e Éden Moraes da Costa (SECULT/FIBRA) dialogarão sobre personalidades que entraram para a história da região amazônica.

Mestre em Antropologia, Éden Moraes da Costa apresentará trabalho sobre o médico Camilo Henriques Salgado Júnior. Sob o título “De médico a santo popular: a devoção ao doutor Camilo Salgado em Belém do Pará” a palestra pretende levantar discussões sobre os mecanismos de construção de memória coletiva em torno deste médico e também o processo de “canonização” desse homem.

Camilo Salgado atuou em inúmeras instituições, incluindo a Santa Casa de Misericórdia e a Faculdade de Medicina do Pará, com relevantes contribuições à consolidação da ciência médica. Com sua morte no ano de 1938, iniciou-se um verdadeiro processo de “santificação” em torno de sua imagem. Doutor Camilo é sempre lembrado por sua dedicação à medicina científica e, principalmente, por sua abnegação ao prestar atendimento a pessoas carentes.

Sepultado no Cemitério de Santa Isabel, em Belém, sua elevação à categoria de “santo” se dá em função dos que acreditam nas curas milagrosas que Camilo Salgado estaria a realizar ainda que de “outro mundo”.

Memória, saúde e doença - Ainda no dia 8, Marcelo José Pereira Carvalho da Universidade Federal do Pará, Sheila Evangelista Cuns (UFPA/SEDUC) e o Dr. Márcio Couto Henrique, também da UFPA, abordarão temas que envolvem memória, saúde e doença.

Marcelo Carvalho ministrará a palestra “Entre o diagnóstico e a terapêutica: ordem médica, representações do suicídio e liberdade de expressão na imprensa belenense na virada dos séculos XIX para o XX”. A apresentação do mestre em ciências abordará os resultados obtidos no decorrer de seu projeto de mestrado em História Social da Amazônia pela UFPA.

A pesquisa de Marcelo privilegiou jornais impressos como fonte histórica, que foram confrontados com obras médicas produzidas no século XIX e início do século XX, para identificar como o discurso médico foi apropriado no debate local estabelecido quando ao direito individual de se dispor da própria vida.

O período que compreende o final do século XIX e início do século XX teve inúmeras práticas de suicido cometidas na cidade de Belém e se encontravam presentes nas notícias, nos artigos e nos anúncios publicitários publicados nos jornais diários.

Supostos fenômenos de materialização de espíritos promovidos pela médium Anna Prado, fez de Belém palco de um intenso debate religioso-científico. A elite intelectual da cidade se sentiu incomodada com a repercussão do caso na imprensa entre os anos de 1919 a 1923. Sheila Evangelista Cuns apresentará a palestra: “Médicos, espíritas e positivismo no Pará: o caso Anna Prado”.

Em “Escravos no purgatório: o leprosário do Tucunduba (Pará, século XIX)”, o Dr. Márcio Couto Henrique analisa a experiência dos escravos recolhidos ao antigo leprosário durante o século XIX. Depois de exibir as marcas da doença em seus corpos, eram libertos e esperava-se que eles se submetessem à política de segregação que visava afastá-los do contato com o restante da população.

Segundo o Dr. Márcio Couto Henrique, a documentação produzida pela Santa Casa de Misericórdia do Pará e autoridades políticas da província revela as estratégias desenvolvidas pelos escravos no enfrentamento desta política, utilizando-se da predominância numérica do leprosário para criar uma rede de solidariedade que permitisse aos doentes recriar a vida e se contrapor ao tipo de nação sonhada pelas teorias higienistas da época.

Personalidades em destaque – No segundo dia de palestras, mais nomes da ciência serão lembrados por suas contribuições.

Rafaela Paiva, Mestre e bolsita  do Museu Goeldi, destacará “Carlos Estevão de Oliveira e o Museu Paraense Emílio Goeldi (1930-1945): panorama documental”, apresentando resultados preliminares da pesquisa: “Intérpretes da Amazônia: a produção científica do Museu Paraense Emílio Goeldi nos anos 1930-1945”,  período que marca a gestão do pernambucano, advogado, poeta e folclorista, Carlos Estevão de Oliveira.

Examinar o pensamento do escritor paraense José Veríssimo no que diz respeito aos estudos das ciências naturais e as suas ideias sobre educação científica feminina na transição do século XIX para o XX, momento este da transição do regime imperial para o republicano é o que tema da palestra de Lêda Valéria, professora da UFPA.

“Mário Ferreira Simões e a arqueologia na Amazônia (1962-1985)” é o tema da apresentação de Helder Bruno Palheta Ângelo, do Museu Goeldi. O foco está nas pesquisas arqueológicas promovidas pelo Museu Paraense Emílio Goeldi, quando Mário Ferreira Simões esteve à frente do setor de Arqueologia da instituição, responsável pela organização e modernização de sua infraestrutura para o melhor desenvolvimento dos estudos, além de fomentar o uso de novos métodos compatíveis com os anseios da época em consolidar a arqueologia como uma disciplina científica no Brasil.

O Mestre em História Social da Amazônia pela UFPA e doutorando em História Social pela Universidade de São Paulo, Jairo Nascimento apresentará na tarde do dia 9 a palestra “Mereba-ayba à varíola: isolamento, vacina e intolerância popular em Belém, de 1884 a 1904”. Seu objetivo é desvendar como o crescimento da cidade de Belém, ao longo do século XIX, provocou ou ampliou problemas já existentes, entre os quais os da saúde pública, destacando-se o desencadeamento de recorrentes epidemias de varíola.

De acordo com Jairo Nascimento, a palestra permitirá demonstrar as razões da intolerância popular às profilaxias e práticas terapêuticas encaminhadas pelo poder público em Belém, principalmente a política de isolamento baseada no discurso higienista e, também, na vacina.

Serviço: 1º Seminário de Pesquisa em História das Ciências na Amazônia. Dias 8 e 9 de maio, das 9h às 16h no auditório Alexandre Rodrigues Ferreira, no Parque Zoobotânico, no Museu Goeldi. Avenida Magalhães Barata, 376, Belém.

Texto: Júlio Matos