Você está aqui: Página Inicial > Notícias > Exploração ilegal de areia destrói vegetação rara no município paraense do Acará
conteúdo

Agência de Notícias

Exploração ilegal de areia destrói vegetação rara no município paraense do Acará

Desde 2011, pesquisadores do Museu Goeldi denunciam a destruição de campinas e campinaranas na região
publicado: 29/07/2013 14h15, última modificação: 15/08/2017 08h35

Agência Museu Goeldi - Em 2011, pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi denunciaram a destruição de campinas e campinaranas no município do Acará, no nordeste paraense. Em uma expedição, coordenada pelo biólogoLeandro Ferreira, constatou-se que a exploração ilegal de areia no local, possivelmente utilizada pelas empresas de construção civil da Região Metropolitana de Belém, reduziu os habitats dessa vegetação bastante rara na Amazônia brasileira, cujo processo final de exploração gera crateras de diferentes tamanhos e vários metros de profundidade. Este ano, a situação agravou-se e Leandro Ferreira realizou uma denúncia legal na Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA).

A região do Acará, situada a 65.74 km de Belém, é uma das mais desmatadas do Pará e, atualmente, resguarda poucos fragmentos intactos de campinas e campinaranas. Os pesquisadores propõem a criação de um programa de conservação de biodiversidade nas campinas desse município. As campinas e campinaranas são um dos tipos de vegetação menos protegidos pelo sistema atual de unidades de conservação e um dos mais ameaçados na Amazônia.

Campina e campinarana – É sobre solos arenosos que cresce esta vegetação de grande interesse para estudos em biogeografia e distribuição de espécies na Amazônia, devido ao isolamento e à grande variação na composição de espécies. As campinas possuem vegetação de pequeno porte, com arbustos e árvores de até 4m de altura. O dossel é descontínuo, com pequenos fragmentos de bromélias, orquídeas e liquens rodeados de areia branca. Já a campinarana possui alta densidade de árvores de 8 a 10m, que formam um dossel contínuo. Dos mais de 5 milhões km² da Amazônia, a vegetação ocupa apenas 64.000 km² e é bastante frágil aos impactos humanos. 

Estudos sobre campinas e campinaranas na Amazônia apontam para a existência de plantas extremamente específicas, com padrões de distribuição geográficos bem delimitados e exclusivos destas áreas. Após a exploração de areia, o que resta nessas áreas são crateras degradadas, já que o solo arenoso possui altas taxas de lixiviação e baixíssimos índices de fertilidade. Na prática, isso significa que o ambiente é vulnerável à erosão e tem baixa capacidade de voltar à condição original por apresentar solos pobres em nutrientes. 

No Pará, o Zoneamento Ecológico-Econômico do estado classificaram essas áreas como “Zonas Ambientalmente Sensíveis”, onde são proibidas atividades econômicas que ameacem sua integridade. Esse tipo de vegetação já foi praticamente eliminado da Zona Bragantina no Pará e está sendo destruído em vários outros municípios paraense tais como, Cametá, Mocajuba e Itaituba. 

As campinas e campinaranas representam um tipo de vegetação de grande importância para a ciência e é necessário preservar os poucos fragmentos ainda intactos como os existentes na região do Acará. Em virtude da crescente depredação desta vegetação, o Museu Emílio Goeldi está solicitando atenção especial das autoridades ambientais e do Ministério Público do Estado do Pará.

 


Texto: Luena Barros