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Agência de Notícias

Educação familiar e a transmissão da cultura à beira do rio

Um rio que guarda recursos, transporta gente e ajuda a transmitir conhecimento de geração à geração
publicado: 15/07/2013 14h00, última modificação: 14/08/2017 10h52

Agência Museu Goeldi – Atravessando o rio Guamá, em frente a Belém, cerca de dois quilômetros ao sul da cidade, encontra-se a bela e bucólica Ilha do Combu. Uma comunidade onde prevalecem meio ambiente, vizinhança e solidariedade. Assim, a bolsista Thainá Nunes descreve o lugar escolhido para desenvolver sua pesquisa sobre “A transmissão geracional da cultura ribeirinha: a educação familiar na comunidade do Igarapé do Combu/PA”. Para Thainá, o rio é sinônimo de via de transporte, de sustento e de diversão. “Entre uma estrada, uma fonte de alimento e de produção e um lugar de lazer, o rio é da comunidade e sem ele esta não seria o que é”, revela a estudante de Ciências Sociais.

O trabalho de Thainá foi premiado dentre os melhores da iniciação científica das Ciências Humanas do Museu Paraense Emilio Goeldi no ano de 2012. A pesquisa, orientada pela antropóloga Lourdes Furtado, fundamentou-se no modus vivendi de uma comunidade na qual a educação do cidadão baseia-se no conhecimento transmitido de geração a geração. Um exemplo fiel das zonas ribeirinhas da Amazônia.

Os moradores da Ilha do Combu perpetuam as tradições culturais nas suas práticas diárias, nas quais transparecem as características da uma cultura ribeirinha, desde as “atividades de casa”, passando pelas suas atividades econômicas, seu lazer e principalmente a alimentação que levam. “Na vida cotidiana ribeirinha é salutar observar todos os seus aspectos: sua individualidade, a personalidade, as ações sobre os objetos que se encontram ao redor para uso e benefício. Tudo contribui para o processo de reprodução para sua efetivação”, enfatiza a jovem pesquisadora.

No igarapé do Combu, os mais antigos detêm os “saberes” referentes a tudo em relação à comunidade. Como dever, transmitir aos mais jovens os ensinamentos adquiridos, pois dessa forma aprenderam com a geração anterior. O respeito aos mais velhos é nítido e regra. Suas experiências de vida os dão maior poder de decisão sobre a família e a comunidade.

Indagada sobre que aspectos da cultura local estão mais presentes na educação familiar dentro da realidade pesquisada, Thainá Nunes afirmou que sua pesquisa enfoca a relação da comunidade com o rio. “Esses ribeirinhos demonstram uma profunda ligação com o rio, a começar pelo seu entendimento do mesmo como sua “rua”, já que é pela via fluvial a única maneira de se locomoverem, à exceção de curtas distâncias como o trajeto entre as casas que são vizinhas, e pode ser percorrido a pé”.
Ainda de acordo com a bolsista, o rio é utilizado no ato de lavar roupas e louças, e para o lazer principalmente dos mais jovens, além de meio de subsistência e renda, através da pesca.

Como na Ilha Saracá, alvo de estudo de outros participante do Renas, além da pesca outra atividade responsável pela geração de renda à Ilha do Combu é a extração e venda de frutos, principalmente do açaí. Aqui novamente é notório o envolvimento de toda a família – homens, mulheres, jovens e adultos, a partir da produção, da coleta, do transporte fluvial e da comercialização em Belém. “As crianças acompanham os pais durante todo o processo para aprenderem e mais tarde, além de contribuírem na renda familiar e dar continuidade ao modo como desenvolver a atividade”, declara Thainá.

Com base na observação da comunidade do Igarapé do Combu, Thainá mostra que a transmissão geracional da cultura local no contexto familiar, ocorre tanto conscientemente quanto inconscientemente. Regras estabelecidas pelos mais velhos, assim como a conscientização sobre algo específico que estes decidem, e as etapas de aprendizado de trabalho exercido pelos pais, elucidam o primeiro modo de transmissão. A observação e convivência das crianças perante os adultos e a comunidade em geral enfatizam como se dá o modo inconsciente da relação.

 

Texto: Júlio Matos