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Coleções científicas e a mediação museológica

Das praias às áreas de mineração, é vasto o campo de coleta dos fósseis integrantes não só da coleção didática do Museu Goeldi, mas, também, da coleção científica
publicado: 08/01/2014 13h00, última modificação: 22/08/2017 15h33

Agência Museu Goeldi - Uma das feições da mediação museológica que aproxima, no caso do Museu Goeldi, a sociedade do conhecimento científico, as coleções científicas são constituídas a partir de coletas feitas em viagens dos pesquisadores a campo. Campo que, no caso dos estudos paleontológicos desenvolvidos no MPEG, compreende tanto as famosas praias do município de Salinópolis, no Pará, a exemplo do Atalaia e do Farol Velho, e áreas do nordeste paraense que são alvo de exploração mineral, como a mina B17, situada no município de Capanema e explorada pela empresa Cibrasa S/A. 

A retirada de camadas de solo para se alcançar o minério revela rochas cheias de fósseis ou altamente fossilíferas, como chamam os especialistas, a exemplo da paleontóloga Sue Costa, da Universidade Federal do Pará (UFPA). São esses fósseis que, coletados pela equipe de paleontólogos do Goeldi e da UFPA, alimentam a coleção didática, não sem antes abastecer a coleção de paleontologia do Museu, a qual contribui diretamente para o progresso da ciência feita na secular instituição. “Em geral, faz-se uma visão do paleontólogo em campo, quebrando a rocha para retirar o osso”, afirma Sue, “mas nem sempre é assim”. Segundo a pesquisadora, há ocasiões em que é necessário levar um pedaço de rocha para o laboratório, onde ela fica imersa em ácido para se desmanchar e, posteriormente, ser peneirada. “O material que fica retido na peneira, ou nas diferentes peneiras – pois usamos vários intervalos de aberturas – será seco em estufa”, relata a pesquisadora.

Catalogação e identificação de ictiólitos - Tudo isso, segundo ela, para viabilizar a triagem desse material, grão por grão, num microscópio. Utilizada desde 2004 no Museu, essa técnica deve fazer dobrar os quatro mil microdentes de peixes já catalogados na coleção paleontológica do MPEG. “Procurar, no laboratório, o que não conseguimos enxergar a olho nu: é basicamente nisso que consiste a técnica”, argumenta Sue. Entra, aí, outro importante projeto desenvolvido no Goeldi, por meio do Programa Institucional de Bolsas  de Iniciação Científica (Pibic): “Catalogação de Ictiólitos da Coleção de Paleontologia do Museu Paraense Emílio Goeldi”, encabeçado por Christiane Santos, aluna de Museologia da UFPA, assim como Bruna Antunes.

Ictiólitos são fragmentos microscópicos de esqueletos de peixes e compõem o objeto de estudo de Christiane, que desenvolve em seu trabalho de iniciação científica novas práticas de curadoria de coleção para armazenamento e catalogação do material. Um dos exemplos desse trabalho são as fichas catalográficas contendo dados importantes para a identificação temporal e espacial desses fósseis e imagens individuais dos microdentes nelas retratados.

“Atualmente, temos no acervo material do Cretáceo (135-65 m.a) e do Mioceno Inferior (25-22 m.a)”, destaca Sue Costa. De acordo com a professora, o trabalho realizado por Christiane torna o acervo científico de Paleontologia do Goeldi “mais funcional e, principalmente, seguro”, tanto do ponto de vista físico, quanto químico, uma vez que utiliza somente materiais que obedecem padrões de conservação preventiva museológica.

Heranças de um passado remoto - Para ser considerado fóssil, o registro precisa ter mais de 11 mil anos de existência. Pouco mais de 950 desses vestígios de animais vertebrados e invertebrados compõem, atualmente, a Coleção Didática Paleontológica do MPEG. Conchas, caracóis, ouriços-do-mar e peixes-boi marinhos estão representados no acervo, que contém, ainda, amostras de dentes de tubarões e espinhos de peixes que viveram na Terra há milhões de anos.

Cerca de 90% desse acervo foi coletado na região do estado do Pará, que integra a chamada Formação Pirabas, área representativa do momento em que o Oceano Atlântico entrou no continente americano, em especial na região norte. “Isso fez com que parte do nosso estado, hoje emersa, estivesse embaixo d'água”, relata Sue Costa. Segundo ela, os limites do mar chegaram até a região do nordeste paraense onde hoje está situado o município de Mãe do Rio. A Formação Pirabas corresponde, hoje, à área compreendida entre o litoral dos EUA e o litoral norte do Brasil, de fauna e ambientes semelhantes em eras geológicas do passado.

Texto: Antonio Fausto, Agência Museu Goeldi

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