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Cientistas enviam carta de recomendação ao governador Helder Barbalho

Assinado por 26 pesquisadores de diversas áreas, o documento prevê ações imediatas, de médio e longo prazos para o enfrentamento à pandemia de COVID-19 no Pará.
publicado: 20/04/2020 13h09, última modificação: 20/04/2020 16h59
Cientistas enviam carta de recomendação ao governador Helder Barbalho

Cientistas enviam carta de recomendação ao governador Helder Barbalho

Agência Museu Goeldi - Um grupo de pesquisadores enviou esta semana ao governador do Pará, Helder Barbalho, uma carta com recomendações para o combate ao novo coronavírus (SARS-CoV-2). Em apoio às medidas já implementadas pela principal autoridade do estado, a carta propõe a criação de um grupo de trabalho envolvendo uma ampla variedade de especialistas para o enfrentamento da crise, assim como a promoção de ações que mitiguem problemas sanitários e de acesso à saúde, históricos no estado. 

O documento é assinado por 26 cientistas e estudiosos de diferentes instituições e áreas do conhecimento, assim como por antigos gestores de instituições federais de ciência, como o Museu Paraense Emílio Goeldi, o Instituto Evandro Chagas, a Embrapa Amazônia Oriental, o Instituto Mamirauá, as universidades Federal do Pará (UFPA) e Rural da Amazônia (Ufra) e o Instituto Federal do Pará (IFPA). Os cientistas também sugerem medidas imediatas, de médio e longo prazos que envolvem áreas para além da saúde, como a de saneamento, a industrial e a de produção de alimentos.

Cenários – A carta denota a preocupação dos pesquisadores com o crescente aumento do número de infectados pelo novo Coronavírus no Brasil e no estado do Pará. Eles citam no documento um estudo recente cuja indicação é que, no pior cenário, o estado alcançará nos próximos meses um pico de até 2.800 infecções, ou, no melhor dos casos, o pico chegará a pelo menos 650 infectados. Para atender aos infectados, de acordo com dados coletados em janeiro de 2020, o Sistema de Saúde do Pará apresentaria somente 1.013 ventiladores/respiradores e 623 Unidades de Terapia Intensiva.

A pandemia no Pará pode ser agravada ainda pelas condições sanitárias e de acesso à saúde no estado que, segundo a carta, historicamente apresenta problemas nessas áreas, fundamentais para o combate à doença.

Medidas - A fim de assegurar condições para que o estado enfrente a crise decorrente da pandemia do novo coronavírus, os pesquisadores elencam cinco recomendações. A primeira delas corrobora a necessidade das medidas adotadas pelo governo - assegurar a incontornável necessidade de isolamento social e ampliar a testagem dos casos suspeitos com a entrega rápida dos resultados, a identificação dos comunicantes da doença e o seu imediato isolamento domiciliar, bem como mais investimentos voltados à proteção dos profissionais de saúde, entre outras.

Depois disso, na segunda, eles abordam a necessidade de garantir medidas de proteção às populações vulneráveis na Amazônia, incluindo povos indígenas, quilombolas, outras comunidades tradicionais como as ribeirinhas, os privados de liberdade, os refugiados e outros. “Considerando que, no Pará, 45% dos municípios têm mais da metade de sua população em situação de pobreza extrema, políticas de proteção social e humanitária, que respeitem a saúde, a vida e os direitos dessas populações mais vulneráveis, precisam ser implementadas emergencialmente”, aponta o documento.

A terceira recomendação trata da importância de coordenar ações de ciência, saúde, meio ambiente e saneamento básico. Segundo a carta, estudos realizados na China e em Singapura mostraram que os pacientes de COVID-19 mantinham em suas fezes o material genético do vírus, mesmo depois de não apresentá-lo mais no pulmão ou nas vias respiratórias. Desse modo, com a escassez de saneamento na região amazônica, nos meses de duração da pandemia, é possível que uma grande carga viral seja despejada nos rios, com o risco de ampliar a disseminação do vírus Sars-CoV-2 no ambiente e a infecção contínua da parcela mais vulnerável da população. 

A quarta recomendação envolve fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS) junto com a criação de uma linha de produção de Equipamentos de Proteção Individual e o reforço aos recursos humanos na área da saúde. De acordo com a carta, essas ações envolvem ainda a urgência de “esforços de coordenação e integração de ações dos setores público e privado de saúde e entre os estados da Amazônia”.

A última recomendação sugere ao governo incorporar contribuições da área da Ciência e Tecnologia na tomada de decisões. Por meio dela os pesquisadores lembram da grande capacidade das instituições científicas situadas no estado, que participam em diversas áreas de redes de investigação nacionais e internacionais, e sugerem a criação de um comitê estadual para articular as ações dos institutos de pesquisa nas temáticas sugeridas no documento.

“Desse modo, este conjunto de cientistas atuantes no estado do Pará, aqui representados, coloca-se à disposição da população e do Governo do Estado, destacando que temos capacidade instalada e disposição para contribuir nas fases de prevenção, controle e monitoramento da doença COVID-19, bem como no delineamento de estratégias que permitam renda às populações atingidas e, a médio e longo prazos, alternativas voltadas ao maior conhecimento e manejo da sociobiodiversidade, à recuperação de áreas degradadas e ao restabelecimento das economias locais”, concluem os pesquisadores.

 

Leia a carta na íntegra aqui