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Artefato pré-histórico é encontrado por pesquisadores do Museu Goeldi

Salvamento arqueológico em área de mineração contribui para o conhecimento sobre ocupação humana na Amazônia
publicado: 08/08/2013 14h15, última modificação: 15/08/2017 08h28

Agência Museu Goeldi - No início do mês de julho, durante escavação, realizada por equipe de pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) foi encontrada uma ponta de projétil (provavelmente uma ponta de flecha), na área de implantação do Projeto Serra Sul (S11 D), da Vale S.A, mais precisamente no sítio Boa Esperança, na região de Carajás no sudeste paraense. Segundo o arqueólogo Marcos Magalhães, que lidera a equipe do MPEG, o achado evidencia a ocupação realizada por antigos caçadores-coletores na área, como também reforça a importância arqueológica do sítio Boa Esperança. “A peça é um achado ainda mais raro que o sítio. Diferentemente dos sítios cerâmicos, nos quais é possível encontrar fragmentos; o sítio de caçadores-coletores apresenta raras evidências ou indícios materiais da existência dessas populações”, afirma.

Para Marcos Magalhães, o sítio Boa Esperança é de grande importância científica por suas raras características arqueológicas. “Os sítios de caçadores-coletores a céu aberto são muito raros, pois são muito antigos e de difícil localização em virtude das transformações ambientais que sofreram”, explica. “O Boa Esperança é um sítio típico de caçadores-coletores e possivelmente milenar. A ocupação de caçadores-coletores mais antiga da região de Carajás, por exemplo, tem nove mil anos (na Gruta do Pequiá). Posteriormente, cerca de três mil anos atrás povos agricultores que produziam cerâmica ocuparam a região em larga escala. No Boa Esperança, a última ocupação, a de agricultores, que é comum na Amazônia, apresenta restos materiais representados, principalmente por fragmentos cerâmicos”, conta o arqueólogo.

Com a descoberta, a equipe de trabalho em campo começará a projetar as áreas em que houve ocupação humana. “Cabe ressaltar que não fizemos a descoberta por acaso. Havia evidências físicas como altitude, hidrografia, entre outras, e mais especialmente, a existência de um leito de rio abandonado, identificados pela metodologia aplicada e que apontavam aquele lugar como área provável para a existência de um sítio de caçadores-coletores”, diz o autor da descoberta.. Além da ponta de projétil, foram encontradas lascas de quartzo, de sílex e de hematita e instrumentos feitos destas mesmas matérias-primas.

Pesquisa em Carajás - O Programa de Estudos Arqueológicos na Área do Projeto Ferro Carajás S11D, do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), realiza, desde o início de 2013, escavações, sondagens e análises do solo na área de implantação do Projeto Serra Sul (S11D), da Vale S.A. O objetivo é encontrar indícios da ocupação humana na área e preservar a história dessa colonização. O S11D encontra-se nos limites dos municípios de Canaã dos Carajás e Parauapebas, no sudeste do Pará.

O Programa integra o Projeto Arqueológico Carajás (PACA), do qual também faz parte o Programa de Estudos Arqueológicos na Área do Projeto Ferro Carajás. O PACA tem período de vigência de cinco anos e é resultado de acordo científico firmado entre o Museu Goeldi, a Vale S.A. e a Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp). Integram a equipe do Projeto pesquisadores do MPEG, alunos de mestrado e doutorado, graduados e graduandos. “As pesquisas de campo do PACA começaram, efetivamente, no S11D, por uma urgência maior, por causa da implantação do novo Projeto de mineração da Vale”, conta o pesquisador Marcos Magalhães, coordenador do Programa.

Entre os objetivos do Programa S11D, destacam-se o “salvamento” arqueológico dos sítios identificados em áreas abertas e que estão sob influência direta da implantação das estruturas do S11D; estudos e desenvolvimento do conhecimento a respeito dos sítios localizados em áreas abertas, cujo alto potencial científico foi indicado por prospecções preliminares; além da identificação de sítios que poderão contribuir para o entendimento do padrão de ocupação da região e das características culturais desenvolvidas nos sítios arqueológicos presentes na área do empreendimento; e do registro de características paisagísticas e botânicas de possível interesse arqueológico.

O Programa Arqueológico S11D vai atuar tanto nos altos (platôs) como nos vales da serra. “Na Serra Sul há uma facilidade de trânsito entre a parte baixa e a parte alta. Isso nos dá a possibilidade de achar vestígios de populações que ocuparam as grutas e deram início à colonização da região”, diz Marcos Magalhães, coordenador do Programa. A ideia é relacionar os tipos de ocupação humana que ali existiram.

Segundo o pesquisador, o início da colonização no local está relacionado aos caçadores-coletores - grupos humanos que subsistiam de materiais encontrados na natureza. “Teriam sido os caçadores-coletores que começaram a exploração dos recursos naturais, orgânicos e não-orgânicos, da região. Descobrimos em escavações anteriores recursos orgânicos como sementes de mandioca. Essa população usava materiais hoje raros de encontrar em outros sítios e difíceis de serem trabalhados. Entre eles, a hematita, cristais de rocha e sílex”, relata Marcos Magalhães.

O arqueólogo Marcos Magalhães informa ainda que o trabalho em campo também visa explicar, a partir dos caçadores-coletores, o desenvolvimento das técnicas de exploração e manejo dos recursos naturais. “Essas técnicas, por conta da experiência milenar vivida pelos caçadores-coletores, que estavam inteiramente adaptados às características regionais do ambiente, ainda têm muito a nos oferecer”, conclui.

Texto: Pedro Santos