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Agência de Notícias

Após cirurgia, onça do Museu Goeldi recupera saúde

Em consequência de uma infecção, a onça Luakã passou por uma cirurgia para retirada do útero e dos ovários. Diagnóstico rápido foi fundamental para preservar a vida do animal
publicado: 26/07/2017 15h15, última modificação: 24/07/2017 12h32

Agência Museu Goeldi – Uma das moradoras mais populares do Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi já retornou ao seu recinto. A onça fêmea Luakã ficou uma semana distante dos olhares do público, após passar por uma ovariohisterectomia no último dia 18 de julho. A cirurgia durou aproximadamente uma hora e meia e devolveu a saúde de Luakã, diagnosticada com piometra – infecção uterina que também acomete cães e gatos. O procedimento cirúrgico foi realizado em parceria com especialistas em obstetrícia e reprodução animal.

Cirurgia durou cerca de uma hora e meia e animal se recupera bemO alerta que algo não ia bem com a onça disparou quando os tratadores notaram gotas de pus no recinto. A equipe de veterinários do Museu submeteu, então, a onça de oito anos de idade a uma avalição clínica, que apontou a suspeita de piometra. Em parceria com o Centro de Obstetrícia e Reprodução Animal (Cora), foi realizado exame de ultrassom que confirmou o diagnóstico de uma infecção no útero. A doença é causada por alterações hormonais que levam a um crescimento excessivo de bactérias existentes naturalmente na vagina, mas que são incomuns no útero. A onça Luakã também apresentava cistos nos ovários, o que pode ter contribuído com o problema.

Cirurgia realizada, a paciente foi mantida na área de manejo, em um espaço menor e reservado, onde foi medicada com antibióticos e analgésicos usados no pós-operatório. A mudança de recinto permitiu ao animal ficar em um lugar mais tranquilo, longe dos olhos de seus admiradores, evitando movimentação excessiva e favorecendo a recuperação de sua saúde. Messias Costa, veterinário do Museu Goeldi, explica que o diagnóstico precoce contribuiu para uma intervenção cirúrgica segura, preservando a vida do animal.

Cirurgia – A veterinária Marina Coutinho, a especialista em reprodução animal que fez a cirurgia de Luakã, explica que o procedimento foi basicamente o mesmo que seria adotado em felinos domésticos. “O que muda é o tamanho, é como se fosse um gato gigante. Pra mim, cirurgicamente, muda menos que pros anestesistas”, diz a médica, satisfeita com o resultado da operação. Sorrindo, Marina não se contém e deixa escapar seu enlevo sobre Luakã: “Ela é linda”.

Raylene Uchôa, veterinária que auxiliou na anestesia e monitorou a frequência cardíaca e respiratória durante todo o processo cirúrgico de Luakã, acrescenta que tudo ocorreu de maneira tranquila. Complementa, pontuando algumas diferenças notáveis, além do porte da onça em relação aos animais domésticos:  o comportamento do animal selvagem faz com que este tenha que receber mais sedação (aplicada inicialmente por meio de dardos), para que ele fique imobilizado durante a cirurgia, como uma medida extra de precaução.

Experiência - A veterinária Camila Fracalossi é bolsista do Programa de Capacitação Institucional e desenvolve estudos em parceria com a equipe do Parque Zoobotânico do Museu Goeldi. Fracalossi destaca o papel da equipe técnica da instituição no manejo, diagnóstico e tratamento das onças. “Tem esse desafio de você estar prestando atenção em tudo, antes, durante e depois de todo o processo, já que a onça não é um animal doméstico e tende a estranhar mais qualquer intervenção”, reflete Camila.

Luakã tem 8 anos de idade, 70 kg, chegou ainda filhote no Parque do Museu GoeldiA bolsista nunca havia feito parte de equipe encarregada desse tipo de cirurgia, e destaca o procedimento como uma chance de aprendizado para futuras necessidades, não só de felinos, mas também de outros animais de grande porte. “É uma experiência importante para complemento do aprendizado que temos na universidade”, ressalta Camila Fracalossi.

O Museu Goeldi recebe com frequência filhotes de onça procedente de resgates e de apreensões feitas pelos órgãos ambientais. Após receberem cuidados especiais no Museu, e, quando é possível, os órgãos competentes redirecionam os animais resgatados para reabilitação e retorno ao ambiente natural.

Onça - A onça-pintada (Panthera onca) é o maior felino das Américas, chegando a medir mais de dois metros. Quando adulto, pesa em média de 60 a 90 quilos. O animal está no topo da cadeia alimentar, por isso é muito sensível a perturbações e alterações em seus habitats e sua presença é um indicador de ambientes preservados. Originalmente, ocorria desde o sul dos Estados Unidos até a Argentina, mas, atualmente, foi extinta em muitos lugares e ocorre apenas em alguns países da América do Sul e Central. É considerada ameaçada de extinção no Brasil pelo Ministério do Meio Ambiente e integra a lista vermelha do Pará.

A onça foi destaque na série multimídia Aves e Mamíferos do projeto Viva Amazônia, do Museu Goeldi. Saiba mais sobre o animal clicando aqui.

Cuidados - A onça Luakã chegou ao Museu em 2009, após ser resgatada de uma situação crítica em Anajás, arquipélago do Marajó (PA), pelo Ibama. Na época, o Museu Goeldi tencionava promover a aproximação entre Guma, onça macho também moradora do Parque do Goeldi, e a fêmea recém-chegada. Todavia, o “namoro” não se concretizou. A onça Guma, resgatada de um cativeiro irregular já bastante humanizada, apresentando perda de seu comportamento natural e arredia ao convívio com outros da própria espécie, reagiu a Luakã de maneira agressiva. Assim, cada um ficou em seu espaço, recebendo estímulos e tratamentos diversificados da equipe técnica do Museu Goeldi.

Guma e Luakã são vítimas da degradação das florestas, seu habitat natural. No Parque do Museu Goeldi, os dois belos animais encantam os visitantes, estimulam a curiosidade, sensibilizam para a natureza amazônica e funcionam como um exemplo vivo da importância da conservação ambiental.

 

Texto: Uriel Pinho e Joice Santos.